No ar pairava o aroma das vinhas aquecidas pelo sol ameno de uma tarde de Outono. Depois do almoço no restaurante Cais da Ferradosa, com vista privilegiada para o rio Douro, o corpo pedia descanso. Mas a promessa de um passeio de barco pelo rio despertou todos os sentidos. Um estreito passadiço na margem, com o coração a bater descompassado devido à iminência de um mergulho, se um pé teimasse em não assentar em terra, conduziu até ao pequeno barco, ancorado entre a vegetação do Alto Douro Vinhateiro.
A popa da embarcação, onde se erguia imponente a bandeira da localidade que lhe dá nome, Vila Nova de Foz Côa, surgiu como o local ideal para sentir o balançar do rio Douro e o vento a bater na cara. Estavam criadas as condições para esquecer o mundo e repousar o olhar entre os socalcos pintados em tons de verde, castanho claro, e vermelho tinto. O comboio da linha do Tua surgia de vez em quando a quebrar o ronronar dos motores do Vila Nova do Côa, guiando a curiosidade pela margem. Rapidamente as garças, as cegonhas negras e tantas outras espécies de aves, que rasgavam o céu, conquistaram os olhares e levaram-nos por uma viagem sinuosa entre as curvas do Douro e a barragem da Valeira.
Ao longe ouvia-se conversa alegre e o tilintar de copos. A atenção girou para o interior do barco onde as confrarias da fogaça da feira e rabelo animavam os visitantes. Promover o vinho do Porto, os bolos tradicionais e adoçar a boca dos que estavam a bordo era a missão dos três confrades que pelo Vila Nova do Côa espalharam conversa e boa disposição. Neste ambiente de festa, a embarcação estacionou na eclusa da barragem da Valeira. O rio tem aqui uma descida acentuada, e o Homem criou este mecanismo de retenção, onde os barcos param a marcha e aguardam a descida do nível da água, até encontrar leito do rio.
Cerca de vinte minutos de êxtase, a ver por dentro um grande poço de betão armado, que aumentava a curiosidade sobre o que encontraríamos do outro lado da imponente porta de cimento. Quase ao nível do rio, a porta começou a subir ligeiramente, criando uma queda de água. A cascata artificial obrigou a recolher na zona coberta do Vila Nova do Côa, para fugir a um banho. A reclusão momentânea terminava; o barco já deslizava pelas águas, a trocar buzinas com outras embarcações que partilhavam o rio.
Momentos antes da viagem terminar, uma ligeira paragem, no lugar de Cachão. Aqui uma enorme inscrição na encosta, assinala a morte no barão de Forrester, inventor do primeiro mapa conhecido do Douro, aquando da travessia do rio acompanhado por D. Antónia, uma das mais conhecidas comerciantes de vinho do Porto.
O Sol já tocava o cimo das montanhas do Alto Douro Vinhateiro, e num pequeno cais, entre as vinhas, o Vila Nova do Côa, encostou e deu por terminada a viagem pelo rio que dá vida ao ouro da região, o vinho.
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